Já se tornou um hábito, sobretudo nas redes sociais, o internauta avisar quando um texto ou comentário está prestes a revelar algum detalhe importante do desenvolvimento do enredo de um livro, série de TV ou filme, para não estragar a surpresa de quem ainda não viu ou leu a obra. Este aviso costuma aparecer nas formas spoiler alert, spoiler ou atenção: spoiler, adaptações de “spoiler alert if you don't want to know”, usado com frequência em inglês. A expressão spoiler alert já está dicionarizada em inglês, e aparece nas versões on-line tanto do Oxford, que o define como “(in a discussion or review of a film, book, television drama, etc.) a warning that an important detail of the plot development is about to be revealed”, quanto do Webster, que a apresenta como “a reviewer's warning that a plot spoiler is about to be revealed”, que indica o ano de 1994 como data da primeira ocorrência conhecida. Na internet brasileira, por meio de pesquisa com a ferramenta Google Trends (https://trends.google.com.br/trends/), que permite realizar buscas de palavras na web a partir de 1º de janeiro de 2004, é possível verificar que spoiler já era usada nesse ano. Cada vez mais popular, observa-se que a palavra spoiler vem sendo utilizada em outros contextos, deixando de ser empregada somente com o sentido relacionado à antecipação de um acontecimento do enredo de uma obra literária ou audiovisual. Ela já é usada pela imprensa em conteúdos não apenas relacionados ao entretenimento, e também pode ser ouvida em palestras e conversas informais, sempre que alguém quer antecipar a conclusão de algo que está dizendo. Recentemente, em uma palestra, um jornalista do jornal Folha de S. Paulo falava sobre os resultados de estudos que tentavam mostrar se a fé contribuía para a cura de doenças, e disse: “spoiler, não ajuda”. Empregos parecidos são recorrentes em posts e comentários de redes sociais. Por isso, propõe-se que, no português brasileiro, este neologismo tenha passado por dois processos de anexação e adaptação à língua: o primeiro, por empréstimo, e o segundo, semântico-enunciativo. Neste trabalho, as análises são baseadas em conceitos de Guilbert (1974), Guespin (1974), Bastuji (1974), Alves (1994, 1996, 2002 e 2006), Sablayrolles (2000) e Mortureux (2011), entre outros autores.